sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Os filmes de minha Vida – Alberto Fuguet

Editora: Agir
ISBN: 978-85-2200-706-6
Tradução: Edmundo Barreiros
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 296
Sinopse: Abalado com a morte inesperada de seu avô, Beltrán Soler – um chileno de trinta e poucos anos – decide recordar cinquenta filmes assistidos na juventude. Os filmes, cujos títulos dão nome aos capítulos do livro, suscitam lembranças que levarão Soler a revistar as causas e efeitos que o transformaram no adulto que se tornou.



“Os terremotos são a maneira que a terra tem de se livrar de seus fantasmas. É preciso temê-los, respeitá-los, saber o que são. Devemos lembrar que é a massa quem morre esmagada, não os cientistas. É fundamental que as pessoas saibam que os terremotos matam e destroem. Só o medo é capaz de nos proteger. Meu objetivo é que milhares de crianças no mundo inteiro cresçam para se transformarem em sismólogos. Em uma ordem lógica, deveria haver mais estudantes de geofísica que de astronomia. Sabemos muito sobre as estrelas, mas não temos nem idéia sobre o solo em que pisamos.”


“O melhor de Paris era, sem dúvida, o instituto de Geofísica. Eu gostava de estar cercado de gente que era incapaz de se relacionar entre si ou consigo mesmo. Não há lugar mais paradisíaco que o microcosmo da ciência, e agora o da informática, para aqueles que não se atrevem a morrer, mas tampouco são capazes de viver com os demais. Em Santiago, a faculdade em Beaucheff era um templo que acolhia os chamado nerds, os tradicionais CDFs e pessoas estranham, e lhes mostrava que eles não estavam sós, que eram uma comunidade. Com o tempo, e junto com os avanços tecnológicos que a sociedade deve ao cientistas, ocorreu uma mudança sutil, mas nem por isto irrelevante.
– Aos poucos – disse-me uma vez Ricardo Mujica, que fazia cálculos estruturais – o resto das pessoas está se comportando como nós. A diferença é que não tem nada por dentro e não estão interessados em saber mais. Veja só: imagine ser como nós e não ter esta obsessão que nos toma?”


“Dominique, quando ficou sem apartamento, achou que era lógico, já que éramos meio-amigos, meio-namorados, que compartilhássemos o apartamento, a cozinha e, cada vez menos, a cama. Não foi algo prazeroso. Acho que ela já não aguentava minhas limitações, carências e manhas. Eu, ao lado dela, era uma pessoa pior. Ela, junto a mim, beirava o insuportável. Juntos nos transformamos nestes casais que os solteiros usam como exemplo para não se comprometer. O que nos unia não era amor nem paixão, mas algo talvez mais afrodisíaco: a pena, a culpa, o consolo, a incapacidade de ficarmos sozinhos. Ela, além disso, tinha uma obsessão para recolher chilenos refugiados (da ditadura de Pinochet); quando soube que eu nunca havia sido torturado, acho que nunca me perdoou.”


“Meu avô paterno era um ser amargo, alquebrado, pouco social, cheio de medos e falências. Nisto, por desgraça, somos parecidos. Mas meu avô sempre sentiu que fazia menos do que podia fazer.”


“Nunca mais vi meu avô; nunca me escreveu, nunca mais soube dele até que me avisaram que morreu e tive de controlar minha vontade de sair para comemorar.”


“Também acho que foram eles que me fecharam as portas e me fizeram descobrir que era hora de crescer, que no mundo dos adultos os que tinham muita sorte podiam sobreviver; aqueles realmente afortunados podiam até mesmo esquecer.”

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