quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pedro Páramo – Juan Rulfo

Editora: BestBolso
ISBN: 978-85-7799-116-7
Tradução: Eric Nepomuceno
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 140
Sinopse: Romance mais aclamado da literatura mexicana, Pedro Páramo é o primeiro de dois livros lançados em toda a vida de Juan Rulfo. O enredo, simples, trata da promessa feita por um filho à mãe moribunda, que lhe pede que saia em busca do pai, Pedro Páramo, um malvado lendário e assassino. Juan Preciado, o filho, não encontra pessoas, mas defuntos repletos de memórias, que lhe falam da crueldade implacável do pai. Vergonha é o que Juan sente. Alegoricamente, é o México ferido que grita suas chagas e suas revoluções, por meio de uma aldeia seca e vazia onde apenas os mortos sobrevivem para narrar os horrores da história. O realismo fantástico como hoje se conhece não teria existido sem Pedro Páramo; é dessa fonte que beberam o colombiano Gabriel Garcia Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, que também narram odisseias latino-americanas.

“– Faz calor aqui – eu disse.
– Pois é, mas isso não é nada – respondeu o outro. – Fique tranquilo. Quando chegarmos a Comala, o senhor vai ver o que é calor forte. Aquilo fica em cima das brasas da terra, bem na boca do inferno. Digo eu que muitos dos que morrem por lá, quando chegam ao inferno voltam para buscar um cobertor.”


“Só eu entendo como o céu está longe de nós.”


“– Esta cidade está cheia de ecos. Parece até que estão trancados no oco das paredes ou debaixo das pedras. Quando você caminha, sente que vão pisando seus passos. Ouve rangidos. Risos. Umas risadas já muito velhas, como cansadas de rir. E vozes já desgastadas pelo uso. Você ouve tudo isso. Acho que vai chegar o dia em que esses sons se apagarão.”


“– Ainda falta uma coisa. A visão de Deus. A luz suave de seu céu infinito. O gozo dos querubins e o canto dos serafins. A alegria dos olhos de Deus, a última e fugaz visão dos condenados à pena eterna. E não apenas isso, mas tudo conjugado com uma dor terrena. O tutano dos nossos ossos convertidos em lume e as veias do nosso sangue em fogo, fazendo-nos contorcer de uma dor incrível; que não míngua nunca; atiçado sempre pela ira do senhor.”

Cisnes selvagens: três filhas da China – Jung Chang

Editora: Companhia das Letras
ISBN: 978-85-359-0862-6
Tradução: Marcos Santarrita
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 648
Sinopse: Nosso desconhecimento da China é tão vasto quanto as dimensões desse país, onde vive nada menos que um quarto da humanidade. Neste livro, Jung Chang resgata a saga de sua família, que reflete as turbulências da história chinesa recente. O relato retrocede ao início do século XX, quando sua avó é oferecida como concubina a um poderoso militar. Depois acompanha a história da mãe da autora, que viveu a ocupação japonesa na Manchúria, o governo do Kuomintang, a queda de Chang Kai-chek, a guerra civil e a vitória de Mao.

“Era política comunista não executar qualquer um que depusesse as armas, e tratar bem os prisioneiros. Isso ajudava a conquistar os soldados comuns, a maioria dos quais vinha de famílias camponesas. Os comunistas não tinham campos de prisioneiros. Mantinham apenas oficiais de média e alta patentes, e dispersavam o resto imediatamente. Organizavam assembleias de “desabafo” entre os soldados, nas quais eles eram encorajados a falar de suas duras vidas como camponeses sem terra. A revolução, diziam os comunistas, era apenas para dar terras a eles. Ofereciam aos soldados uma (sic) opção: ou iam para casa, caso em que recebiam a passagem, ou podiam ficar com os comunistas e ajudar a varrer o Kuomintang, para que ninguém voltasse a tomar suas terras. A maioria permanecia por vontade própria e juntava-se ao exército comunista. Alguns, naturalmente, não podiam chegar às suas casas com uma guerra em andamento. Mao aprendera com a guerra chinesa antiga que a maneira mais eficaz de conquistar o povo era conquistar seus corações e mentes. A política em relação aos prisioneiros revelou-se um enorme sucesso. Particularmente depois de Jinzhou, um número cada vez maior de soldados do Kuomintang simplesmente se deixava capturar. Mais de 1,75 milhão de soldados do Kuomintang renderam-se e passaram-se para os comunistas durante a guerra civil. No último ano, as baixas em combate representaram menos de vinte por cento de todos os soldados que Kuomintang perdeu.
Um dos altos comandantes que foram presos tinha consigo a sua filha, em adiantado estado de gravidez. Ele perguntou ao oficial comandante comunista se podia ficar com ela em Junzhou. O oficial comunista disse que não era conveniente um pai ajudar a filha a ter um bebê, e que ia enviar uma “camarada” para ajudá-la. O oficial do Kuomintang achou que ele só dizia aquilo para fazê-lo seguir. Mais tarde, soube que a filha fora muito bem tratada, e a “camarada” na verdade era a esposa do oficial comunista. A política em relação aos prisioneiros era uma complicada combinação de cálculo político e consideração humanitária, e esse foi um dos fatores cruciais na vitória dos comunistas. Seu objetivo não era apenas esmagar o exército adversário, mas, se possível, provocar sua desintegração. O Kuomintang foi derrotado tanto pela desmoralização quanto pelo poder de fogo.”


“Apesar dessas tragédias pessoais, ou talvez em parte por causa do férreo controle, a China estava mais estável em 1956 do que em qualquer época nesse século. Ocupação estrangeira, guerra civil, morte devido à fome generalizada, bandidos, inflação – tudo parecia coisa do passado. A estabilidade, sonho dos chineses, sustentava sua a fé de pessoas como minha mãe em seus sofrimentos.”


“Mao teve de tramar muito para preservar seu poder. Nisso, era um mestre supremo. Sua leitura favorita, que ele recomendava a outros líderes do Partido, era uma coleção clássica de trinta volumes sobre intrigas da corte chinesa. Na verdade, podia-se entender melhor o governo de Mao em termos de uma corte medieval, na qual ele exercia um poder mágico sobre seus cortesãos e súditos. Era também um mestre em “dividir para governar”, e em manipular a tendência dos homens a lançarem outros aos lobos.”


“Mao, o imperador, enquadrava-se num dos padrões da história chinesa: o líder de um levante camponês nacional que varre uma dinastia e se torna um sábio novo imperador, exercendo autoridade absoluta. E, num certo sentido, podia-se dizer que ele fizera jus a seu status de deus-imperador. Foi o responsável pelo fim da guerra civil e pela paz e estabilidade, coisas pelas quais os chineses tanto ansiaram – tanto que diziam: “É melhor ser um cão na paz que um ser humano na guerra”. Foi sob Mao que a China se tornou uma potência a ser levada em conta no mundo, e muitos chineses deixaram de sentir-se envergonhados e humilhados por ser chineses, o que significava muitíssimo para eles. Na verdade, Mao levou a China de volta aos tempos do Reino do Meio, e, com a ajuda dos Estados Unidos, ao isolamento do mundo. Ele possibilitou aos chineses voltar a sentir-se grandes e superiores, cegando-os para o mundo externo. Apesar disso, o orgulho nacional era tão importante para os chineses que grande parte da população era genuinamente agradecida a Mao, e não achava ofensivo o seu culto da personalidade, certamente não a princípio. A quase total falta de acesso às informações e a sistemática desinformação significaram que a maioria dos chineses não tinha como discriminar entre os sucessos e os fracassos de Mao, ou de identificar o papel relativo dele e de outros líderes nas conquistas comunistas.
O medo jamais esteve ausente na escala do culto a Mao. Muitas pessoas haviam sido reduzidas a um estado em que não se atreviam sequer a pensar, para que suas ideias não se externassem involuntariamente. Mesmo que alimentassem ideias heterodoxas, poucos falavam delas aos filhos, pois eles podiam deixar escapar alguma coisa para outras crianças, o que traria a tragédia tanto para si mesmas quanto para os pais. Nos anos da campanha de Lei Feng, martelou-se nas crianças que nossa primeira e única lealdade devia ser para com Mao. Uma música popular dizia: “Papai está perto, mamãe está perto, mas ninguém está tão perto quanto o presidente Mao”. Éramos condicionados para pensar que qualquer um, incluindo nossos pais, que não fosse totalmente pró-Mao, era nosso inimigo. Muitos pais encorajavam os filhos a tornarem-se adultos conformistas, pois isso seria mais seguro para o futuro deles.”

sábado, 24 de julho de 2010

Tópicos especiais em física das calamidades – Marisha Pessl

Editora: Nova Fronteira
ISBN: 978-85-209-2070-1
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 576
“Papai era um homem que, talvez devido à sua história de privações, jamais hesitava em executar os verbos botar e tomar. Ele estava sempre botando pra quebrar, a mão na massa, o pé na estrada, lenha na fogueira, alguém em seu devido lugar, ordem no galinheiro, os pingos nos is, alguém pra correr. Também estava sempre tomando a dianteira, tendência, o boi pelo chifre, de volta o que era seu, as dores de alguém. E quando se tratava de observar as coisas, o Papai era uma espécie de Microscópio Composto, daqueles que viam a vida por meio de uma lente ocular ajustável, esperando que todas as coisas estivessem bem focadas. Não tinha nenhuma tolerância com o Embaraçado, o Fosco, o Nebuloso e o Sujo.”


“– O maior feito americano não foi a bomba atômica, nem o fundamentalismo, nem os spas de emagrecimento, nem o Elvis, nem mesmo a observação bastante astuta de que os homens preferem as loiras, e sim o grande salto de qualidade que imprimimos ao sorvete.”


“Era um desses silêncios adultos. O silêncio dos casais que voltam para casa depois de um jantar, evitando falar do marido de alguém que ficou bêbado demais ou de como, secretamente, não queriam ir para casa um com o outro e sim com alguma pessoa nova, alguém cujas pintas não conhecessem.”


“Se Papai estivesse presente, sem dúvida teria comentado que a maior parte dos adultos presentes estava “perigosamente perto de abdicar de sua dignidade” e que aquilo era triste e perturbador, porque “todos estavam buscando algo que nunca reconheceriam, mesmo que o encontrassem”. O Papai era notoriamente severo ao comentar o comportamento alheio. Ainda assim, ao observar uma Mulher Maravilha de quarenta e poucos anos que tombou de costas na ordenada pilha de revistas Viagem de Hannah, eu me perguntei se a própria ideia de Crescer não seria uma farsa, um ônibus que esperamos tão ansiosos que nem sequer notamos sua chegada.”


“No entanto, não podemos deixar de notar que a violência, apesar de oficialmente abominada nas culturas Ocidental e Oriental (apenas oficialmente, pois nenhuma cultura, moderna ou antiga, jamais hesitou em utilizá-la para satisfazer seus próprios interesses), é inevitável nos momentos de mudança.”


“E quando falava de uma Entidade Superior, usava palavras como gratificanterestauradora transformadora. Era algo que nos “conduzia pelos momentos difíceis”, que “qualquer pessoa jovem poderia alcançar com um pouco de trabalho duro, confiança e tenacidade.”
Deus era uma viagem a Cancun.”
  

“Eva Brewster estava ao lado dela, e me lançou um sorriso reconfortante, mas depois o escondeu quase imediatamente, como se me emprestasse o seu lenço mas não quisesse vê-lo sujo.”

O cavalo e seu menino (As Crônicas de Nárnia) – C. S. Lewis

Editora: Martins Fontes
ISBN: 978-85-7827-069-8
Tradução: Paulo Mendes Campos
Opinião: ★★★★☆
Análise em vídeo: Clique aqui
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Páginas: 102
Sinopse: Ver Parte I



“Quem tenta enganar o sábio, já está tirando a camisa para receber chicotadas.”


“Espada não entra em escudo, mas contra o olho da sabedoria não há defesa.”


“Quando perdi de vista a mansão de meu pai e cheguei a um bosque relvado, sem moradia de homem, apeei e retirei a adaga. Abri as minhas vestes onde julgava ser o caminho mais certo ao coração e implorei a todos os deuses que me conduzissem para junto de meu irmão, tão logo me fosse. Fechei os olhos, cerrei os dentes, preparando-me para enterrar a adaga no peito. Antes que o fizesse, esta égua falou, com a mesma voz das filhas dos homens. Falou e disse: ‘Minha ama, não se destrua, pois, se viver, ainda poderá alcançar o favor do destino; mas os mortos são iguais a todos os mortos’.”


“Há também aquele outro ditado: ‘Venha morar comigo pra saber quem eu sou’.”


“– Compreenda, filho meu, que nenhuma das palavras que proferir poderá levar-me a uma guerra aberta com Nárnia.
– Não fosse o senhor o meu pai, ó sempiterno Tisroc – disse o príncipe rangendo os dentes –, diria que são palavras de um covarde.
– E não fosse você meu filho, ó fogoso Rabadash, sua vida agora seria curta e demorado o seu fim.”


“Uma desvantagem das aventuras é esta: quando chegamos aos lugares mais belos, estamos em geral tão aflitos e apressados que não somos capazes de apreciá-los.”


“O coração de Shasta quase parou ao ouvir essas palavras, pois já não lhe restavam reservas de força. Por dentro rebelava-se contra o que lhe parecia a crueldade da missão. Ainda não aprendera que a recompensa de uma boa ação é geralmente ter de fazer uma outra boa ação, mais difícil e melhor.”


“– Tive sorte.
– Minha filha: já vivi cento e nove invernos e jamais encontrei uma coisa chamada sorte. Há algo misterioso no que está acontecendo, mas, esteja certa, se precisarmos saber o que é, saberemos.”


“Não ouse não ousar.”


“Só insulte um homem mais forte do que você.”

terça-feira, 20 de julho de 2010

Por quem os sinos dobram – Ernest Hemingway

Editora: Bertand Brasil
ISBN: 978-85-2860-932-5
Tradução: Luís Peazê
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 624
Sinopse: Esta comovente história, cujo pano de fundo é a Guerra Civil Espanhola, narra três dias na vida de um americano que se ligara à causa da legalidade na Espanha. Hemingway conseguiu que seus leitores sentissem que o ocorrido no país ibérico em 1937 era apenas um aspecto da crise do mundo moderno.
A obra foi eternizada no cinema numa produção norte-americana, dirigida por Sam Wood, com Gary Cooper e Ingrid Bergman nos papéis principais. A trama gira em torno de Robert Jordan (Gary Cooper), o americano integrante das Brigadas Internacionais, que luta ao lado do governo democrático e republicano, recebendo a missão de dinamitar uma ponte. Com ele está um grupo de guerrilheiros/ciganos integrado por Pilar (Katina Paxinou, que recebeu Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), mulher com extraordinária força de vontade, o perigoso Pablo (Akim Tamiroff) e a bela Maria (Ingrid Bergman). A relação entre Robert e Maria acabou por se tornar uma das mais inesquecíveis histórias de amor da literatura moderna e do cinema.
Hemingway começou a escrever o livro em 1939, em Cuba, onde morava. Publicado em 1940, foi sucesso de crítica e público. Por razões políticas, no entanto, deixou de receber o Pullitzer, prestigiado prêmio literário dos EUA, apesar de eleito por unanimidade pelos jurados.



“Nenhum homem é uma Ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é uma partícula do Continente, uma parte da terra. Se um Pequeno Torrão carregado pelo Mar deixa menor a Europa, como se todo um Promontório fosse, ou a Herdade de um amigo seu, ou até mesmo a sua própria, também a morte de um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.”
John Donne (1572-1631), poeta e padre anglicano – Meditação XVII, de cujo excerto acima Ernest Hemingway retirou o título da presente obra: Por quem os sinos dobram.

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“– E não significa nada para ti ser caçada como um animal depois que isso acontecer, esse negócio do qual não teremos nenhum lucro? Não se importa se morrer nisso?
– Não! E não tente me assustar, seu covarde.
– Covarde? – disse o marido com amargura. – Chama um homem de covarde porque tem senso tático. Porque pode prever o resultado de uma idiotice. Não é covardia saber o que é uma estupidez.
– Nem é idiotice saber o que é covardia – interferiu Anselmo, sem conseguir furtar-se à frase de efeito.”


“– É verdade que ela não tem doença. Podia até ter. Não sei como não pegou. Talvez Deus ainda exista, embora O tenhamos abolido.”


“– Escute – disse a mulher. – Eu não sou covarde, mas vejo as coisas muito claras pela manhã, e acho que tem muita gente viva que conhecemos que não verá outro domingo.
– Que dia é hoje?
– Domingo.
– Que va – disse Robert Jordan. – O outro domingo está muito longe. Se virmos a quarta-feira, já estaremos muito bem. Mas não gosto de ouvi-la falando assim.
– Todos precisam ter alguém para conversar – disse a mulher. – Antes, tínhamos a religião e outras coisas sem sentido. Agora, cada um precisa ter com quem falar abertamente. Pois quanto mais bravura alguém tiver, mais solitário vai ficando.”


“O fanatismo é uma coisa singular. Ser fanático requer absoluta certeza de que você está correto, e nada estimula a certeza e a correção como a castidade. A castidade é a inimiga da heresia.”


“– Não – disse Pablo. – Não é verdade. Se todos tivessem matado os fascistas como eu matei, não estaríamos nesta guerra. Mas não deixaria acontecer como aconteceu.
– Por que você diz isto? – perguntou Primitivo. – Está mudando a sua política?
– Não. Mas aquilo foi uma barbaridade – disse Pablo. – Naquele tempo eu era muito bárbaro.
– E hoje você é um bêbado – disse Pilar.
– Sou – disse Pablo. – Com a sua permissão.
– Gostava mais de você quando era bárbaro – disse a mulher. – De todos os homens, o bêbado é o mais idiota. O ladrão, quando não está roubando, é igual a qualquer outro. O chantagista não opera em casa. O assassino, quando está em casa, pode lavar as mãos. Mas o bêbado fede e vomita na sua própria cama, e dissolve seus órgãos no álcool.
– Você é uma mulher, você não entende – disse Pablo, tranquilamente. – Estou bêbado de vinho e seria feliz, se não fosse por causa daquelas pessoas que matei. Todas elas me enchem de remorso – balançou a cabeça, lobregamente.”


“Em ambos os lugares se tinha a sensação de estar fazendo parte de uma cruzada. Esta era a única palavra para descrevê-la, mas fora tão usada e desgastada de tal forma que perdera o seu verdadeiro significado.”


“Dava para sentir, a despeito dos entraves burocráticos, da ineficiência e conflitos do partido, alguma coisa parecida com aquilo que esperava sentir na primeira comunhão e não conseguiu alcançar. Era um sentimento de consagração para o dever com respeito a todos os oprimidos do mundo, tão difícil e embaraçoso de se explicar quanto as experiências religiosas, e mesmo assim era autêntico, como a sensação que se tinha ao ouvir Bach, ou ficar na Catedral de Chartres, ou na Catedral de Lyon, e ver a luz passar pelas grandes janelas, ou ver Mantegna, e Greco e Brueghel no Prado. É algo que transmite a você um sentimento de pertencimento a uma coisa em que você acredita integralmente, na qual vislumbra uma fraternidade absoluta, compartilhada com os demais que estivessem engajados. É uma experiência nunca vista, mas que você experimenta, então, e acaba dando tanta importância a ela, e as suas razões, que a sua própria morte não importa mais – torna-se apenas algo a ser evitado, para garantir o cumprimento do dever. Mas o melhor de tudo é que você pode fazer algo de concreto com esse sentimento e essa necessidade. Você pode lutar.”
“Então você lutou. E com a luta, bem cedo, acabou a pureza de sentimento para aqueles que lutaram bem e sobreviveram. Antes dos primeiros seis meses”.”


“– Gosto mais do front – dissera Robert Jordan. – Quanto mais perto do front, melhores as pessoas.”


“Numa guerra não se pode dizer o que a gente sente.”

Cadeia de comando – Seymour M. Hersh

Editora: Ediouro

ISBN: 978-85-0001-577-9

Tradução: Áurea Akemi Arata, Marina Petroff Garcia e Andréia Moroni

Opinião: ★★★★☆

Páginas: 400

Sinopse: Mi Lai, Vietnã, 1969. Um jovem repórter americano denunciava ao mundo o massacre de mais de 500 civis por uma brigada do exército de seu país. A reportagem venceu o prêmio Pulitzer e ajudou a derrotar a violenta investida dos Estados Unidos em sua guerra mais insensata.

Abu Ghraib, Iraque, 2004. O mundo vê pela primeira vez as chocantes imagens das torturas impostas pelo exército americano aos prisioneiros iraquianos. A denúncia, publicada pela revista The New Yorker, é o golpe mais pesado sofrido pelo governo Bush em sua “guerra contra o terror”.

Estes dois capítulos decisivos da História recente foram escritos por Seymour M. Hersh, que nos 35 anos que separam as duas catastróficas guerras empreendidas pelos Estados Unidos manteve-se fiel a um dos princípios básicos do jornalismo; a vigilância constante do poder. Cadeia de comando é um livro que nasce histórico ao tentar entender a sucessão de ordens e contraordens que levaram a mais sólida democracia do Ocidente a incorrer em erros dos piores regimes autoritários. Em nome da guerra ao terror, revela Hersh, foi cometido todo tipo de abuso e infração das leis americanas e internacionais. Enquanto jornais e TVs dos Estados Unidos pedem desculpas públicas por omissões e distorções no noticiário da guerra do Iraque, Seymour M. Hersh conduzia de forma independente e imparcial suas investigações. Quando o mundo ainda não havia se recuperado do trauma do 11 de setembro, as primeiras reportagens de Hersh, publicadas pela revista The New Yorker, apontavam as contradições e fragilidades das versões oficiais. Empenhado em contar a verdade sobre mais esta guerra, o repórter continuou a seguir as pistas que levaram aos chocantes maus-tratos praticados na prisão em que o ex-ditador Saddam Hussein, deposto em nome da liberdade, torturava seus adversários. Cada capítulo de Cadeia de comando é um passo decisivo na busca de uma versão imparcial para a história recente dos Estados Unidos.



“Na verdade, uma declaração secreta do ponto de vista do presidente (George W. Bush) assinada por ele em 7 de fevereiro de 2002 tinha uma brecha que era utilizada no mundo todo. “Eu [...] determino que nenhuma das provisões da Convenção de Genebra se aplica ao nosso conflito com a Al-Qaeda no Afeganistão ou em outros lugares do mundo”, afirmou o presidente, declarando também que tinha autoridade sob a Constituição de suspender a Convenção de Genebra entre os Estados Unidos e o Afeganistão, mas declinava de exercer aquele poder na época. Em outras palavras, os detentos não tinham proteção inerente sob a Convenção de Genebra – as condições do aprisionamento, más ou boas, ou como fossem, dependiam somente da vontade do presidente.”

 

 

“Era óbvio que havia uma ruptura entre a realidade da vida na prisão em Guantánamo e como esta era descrita ao público em coletivas de imprensa cuidadosamente encenadas e nas declarações liberadas pelo governo. As autoridades das prisões americanas repetidas vezes asseguraram ao povo e à imprensa, por exemplo, que os detentos da Al-Qaeda e do Talibã tinham pelo menos três horas de recreação por semana. De acordo com um assessor do Pentágono familiarizado com as condições dos detentos, em meados de 2002, na hora de recreação, alguns prisioneiros considerados mais durões eram amarrados com jaquetas pesadas, similares a camisas-de-força, com os braços presos para trás e as pernas afastadas com correias. Colocavam viseiras sobre os olhos e as cabeças eram cobertas com capuzes. Ao meio-dia, o prisioneiro era levado até o que parecia um corredor estreito para cachorros se exercitarem – havia fotografias do procedimento – e assim ele tinha a sua hora de recreação. As limitações forçavam os prisioneiros a se mover – se eles decidissem se mover – de joelhos, curvados num ângulo de 45 graus. A maioria deles só ficava sentada e sofrendo com o calor.”

 

 

“Em novembro de 2002, Geoffrey Miller, general de divisão do exército, substituiu Dunlavey e Baccus, unificando o comando em Guantánamo. Baccus era visto pelo Pentágono como brando – preocupado demais com o bem-estar dos prisioneiros. Ele questionava as técnicas de interrogatório e distribuía cartazes da Cruz Vermelha que lembravam os prisioneiros dos direitos sob a Convenção de Genebra.

(...) Nas audiências do Senado depois de Abu Ghraib, soube-se que Miller tinha permissão para usar técnicas legalmente questionáveis em Guantánamo, que poderiam incluir, dependendo de aprovação, privação de sono, exposição ao frio e calor extremos e colocação de prisioneiros em “situações de estresse” por sufocantes períodos de tempo.”

 

 

“Em abril de 2004, consegui obter um relatório de 53 páginas de uso interno redigido pelo major-de-divisão Antonio M. Taguba. (...) Suas conclusões sobre as falhas institucionais do sistema penitenciário do exército eram espantosas. Especificamente, Taguba descobriu que entre outubro e dezembro de 2003 houve numerosos momentos de “abusos criminais, sádicos, escandalosos e devassos” em Abu Ghraib. (...) O relatório listava algumas das más condutas:

Quebrar lâmpadas fluorescentes e despejar o líquido fosfórico nos detentos; jogar água fria nos prisioneiros nus; ameaçar os detentos de estupro; permitir que um guarda da polícia militar costurasse o ferimento de um detido que se machucara depois de ser atirado contra a parede da sua cela; sodomizar um detento com uma lâmpada fluorescente e talvez um cabo de vassoura e usar cães de uso militar para assustar e intimidar detentos com ameaças de ataque e, num caso, morder o prisioneiro.”

 

 

“Segundo o que um consultor militar com fortes laços com a comunidade das operações especiais disse em 2004, alguns oficiais que serviam no Iraque haviam registrado reclamações por escrito sobre abuso nas prisões antes de as fotografias (de prática de tortura) virem a público. Foi-lhes dito que os documentos teriam de ser passados ao general Sanchez. O consultor acrescentou, com raiva: “Crimes de guerra são cometidos e não se toma nenhuma providência. As pessoas foram surradas até a morte. Como se chama quando as pessoas são torturadas e vão morrer, e os soldados sabem disso, mas não cuidam dos ferimentos:” E respondeu a própria pergunta: “Execução”.”

 

 

“A ordem de limpeza levou à criação de uma serie de grupos de peneiramento na matriz da CIA. Antes que um novo “ativo” pudesse ser recrutado, um funcionário tinha de buscar aprovação de um Grupo de Revisão Graduado. “Era como um cardiologista da Califórnia decidindo se um cirurgião poderia abrir um peito em Nova York”, lembrou um ex-funcionário. Os potenciais agentes eram avaliados por funcionários que não tinham experiência prática em operações secretas. (Robert Baer – funcionário aposentado da CIA, que foi premiado com a Medalha da Carreira na inteligência, que fala árabe e era considerado talvez o melhor agente de campo no Oriente Médio – lembrou-se de ter pensado: “Os americanos simplesmente odeiam a inteligência”.) Na opinião dos funcionários de operações, as armas mais importantes na guerra contra o terrorismo internacional estavam sendo avaliadas por homens e mulheres que, como um dos funcionários aposentados colocou, não pegavam o carro para ir até um restaurante de Washington à noite porque temiam os crimes na área.”

 

 

“Segundo Robert Baer, a situação é bem grave. O que salvou a Casa Branca do voo 93 foi um grupo de jogadores de rúgbi, que atacou os sequestradores da Al Qaeda, forçando o avião a cair na Pensilvânia, perto do alvo. “É para isso que se gastam 30 bilhões de dólares?”, perguntou ele, referindo-se ao orçamento federal para a inteligência (por ano).”

 

 

“Richard A. Clarke, ex-assessor sobre o terrorismo do Conselho de Segurança Nacional revelou, numa entrevista de abril de 2004, que o governo via o Afeganistão como um remanso militar e político – um desvio no caminho em direção ao Iraque, a guerra que mais importava ao presidente. Segundo ele, Clarke e alguns de seus colegas advertiram repetidas vezes à liderança de segurança nacional de que “não se pode ganhar a guerra no Afeganistão com tão pouco esforço. Havia mais policiais em Nova York que soldados no solo do Afeganistão. Precisamos ter uma presença segura, aliada a um programa de desenvolvimento em cada região e permanecer lá por vários meses”.

De acordo com Clarke, o presidente e seus homens não responderam por três motivos: “Um, não queriam se envolver no Afeganistão, como os russos. Dois, economizavam forças para a guerra no Iraque. E três, Rumsfeld (Donald Rumsfeld, secretário de defesa) queria ter um laboratório para provar sua teoria sobre a capacidade de um número pequeno de tropas terrestres conjugado com o poder aéreo vencer batalhas decisivas”. O resultado, segundo Clarke, foi que “os Estados Unidos tiveram sucesso em estabilizar somente duas ou três cidades. O presidente do Afeganistão não passa do prefeito de Cabul”.”

 

 

“Um ex-funcionário de inteligência do governo Bush lembrou um caso em que o grupo de Chalabi, trabalhando com o Pentágono, surgiu com um desertor do Iraque que foi entrevistado no estrangeiro por um agente da DIA (Defense Intelligence Agency – Agência de Inteligência de Defesa do Pentágono). O agente baseara-se num intérprete suprido pelo pessoal de Chalabi. No verão de 2002, o relatório da DIA, que era confidencial, vazou. Numa reportagem detalhada, o Times, de Londres descreveu como o desertor fora treinado com os terroristas da Al Qaeda no final dos aos 1990 em campos secretos no Iraque, como os iraquianos recebiam instruções sobre o uso de armas químicas e biológicas e como o desertor recebera uma nova identidade e fora transferido. Entretanto, um mês mais tarde, os agentes da CIA foram entrevistar o homem com um intérprete próprio. Um ex-funcionário contou: “Ele declarou: ‘Não, não foi o que eu disse. Eu trabalhava num campo em fedain, não era da Al Qaeda’. Nunca vira nenhum treinamento químico ou biológico. A CIA mandou um pedaço de papel dizendo que a informação estava incorreta. Puseram por escrito. Mas a negação da CIA, tal como o relatório original, era confidencial. Lembro de ter pensado se este iria vazar e corrigir o anterior, o vazamento incorreto. É claro que isso não ocorreu”.

O ex-funcionário continuou: “Uma das razões de eu ter saído foi meu sentimento de (profissionais do governo, especialmente do Pentágono) estarem usando a inteligência da CIA e de outras agências apenas quando se ajustava à sua agenda (ir à guerra contra o Iraque – mesmo sem provas). Não gostavam das informações de inteligência que estavam obtendo, então trouxeram um pessoal para escrever. Estavam tão enlouquecidos, tão distantes e era tão difícil ter uma conversa lógica com eles, a ponto de a situação ser bizarra. Eram dogmáticos, como se estivessem numa missão divina. Se o fato não serve para a teoria deles, eles não o aceitam”.”

 

 

“Kenneth Polack, um ex-especialista em Iraque do Conselho de Segurança Nacional, cujo livro The Threatening Storm (A tempestade ameaçadora) apoiava de modo geral o uso da força para remover Saddam Hussein, contou que o pessoal de Bush fez foi “desmantelar o processo existente de filtragem que durante 50 anos impedira os articuladores políticos de receberem informações erradas. Criaram canais para passar as informações que queriam diretamente para a liderança. Eles acreditavam que a burocracia profissional, de uma maneira deliberada e mal-intencionada, impedia o acesso deles às informações”.

“Eles sempre tinham informações para sustentar suas acusações públicas, mas muitas vezes era má informação”, continuou Pollack. “Eles estavam forçando a comunidade de inteligência a defender suas informações e análises corretas de modo tão agressivo que os analistas de inteligência não tinham tempo ou energia para buscar as informações incorretas.” Comentando o controle de Rumsfeld sobre o DIA, um ex-funcionário de alto-escalão declarou no início de 2002: “Se tornassem público que o Rummy queria ligar o governo de Tonga ao 11 de Setembro, dentro de alguns meses arranjariam fontes que o fariam”.

(...)

Em entrevistas, ex-funcionários e analistas da CIA descreviam a agência numa crescente desmoralização. Um deles disse de George Tenet (diretor da instituição): “George sabe que está sendo derrotado e os analistas estão aterrorizados. Ele costumava proteger seu pessoal, mas está sendo forçado a fazer as coisas do jeito deles”. Por estarem na defensiva, os analistas da CIA escreviam “relatórios justificando sua inteligência em vez de dizer o que estava acontecendo. O Departamento de Defesa e o gabinete do vice-presidente escrevem seus próprios trabalhos, baseados na própria ideologia. Coletamos tantas coisas que você pode encontrar o que quiser”.

Como resultado, a administração conseguiu as coisas do seu modo, de acordo com um ex-funcionário da CIA: “Os analistas da CIA foram vencidos defendendo suas avaliações. Nunca vi um governo assim”.”

 

 

“Rumsfeld começou a reclamar para seus subordinados das precauções do general Holland (Charles Holland, da aeronáutica, comandante de quatro estrelas das Operações Especiais) logo após o 11 de setembro. Alguns dias depois dos ataques, ele pediu que Holland compilasse uma lista de alvos terroristas para retaliação imediata. O general retornou duas semanas mais tarde com quatro possíveis alvos – fortalezas islâmicas suspeitas na Somália, Mauritânia, Filipinas e na Tríplice Fronteira, ponto onde se encontram Brasil, Paraguai e Argentina. Mas o general também disse a Rumsfeld que um ataque imediato não era possível, porque os militares não possuíam “inteligência acionável” nos alvos propostos, de acordo com um consultor de Defesa. A retaliação teria de esperar até que a guerra no Afeganistão começasse. O secretário de Defesa não ficou satisfeito. Nos meses seguintes, “inteligência acionável” transformou-se numa máxima ridícula entre os oficiais civis do Pentágono.” (grifo do blog)

 

 

“Há muita coisa a respeito desta administração presidencial (de George W. Bush) que não sabemos e talvez nunca venhamos a saber. Alguns dos problemas mais relevantes nem estão sendo questionados. Como procederam os envolvidos? Como oito ou nove neoconservadores que acreditavam que a guerra no Iraque seria a resposta contra o terrorismo internacional se safaram? Como eles redirecionaram o governo e reordenaram as prioridades e políticas americanas com tanta facilidade? Como superaram a burocracia, intimidaram a imprensa, enganaram o Congresso e dominaram os militares? Será que a nossa democracia é tão frágil? Tentei neste livro descrever alguns dos mecanismos usados pela Casa Branca: a canalização da inteligência, a confiança em Ahmad Chalabi, a recusa em ouvir opiniões discordantes, a dificuldade em conseguir conversas francas sobre operações militares frustradas e de assessores do mais alto escalão em separar muçulmanos que apóiam o terrorismo daqueles que abominam. Uma compreensão completa dos anos mais recentes será um desafio para jornalistas, cientistas políticos e historiadores.”

 

 

“No verão de 2004, em campanha, George Bush repetidas vezes assegurou ao público que suas políticas tinham transformado os Estados Unidos num lugar mais seguro. “Viramos a esquina” era o refrão do discurso de bravata, “Estamos projetando os Estados Unidos para a frente ao estender a liberdade e a paz pelo mundo.” Ele afirmou que o Iraque e o Afeganistão “agora estão sendo governados por líderes fortes. Esses países estão a caminho de eleições livres”. Os Estados Unidos, prosseguiu ele, segurarão os inimigos pelo mundo afora, “para que não tenham de encará-los aqui em casa”. O presidente não mencionou a falta das armas de destruição em massa, o ônus das mortes crescentes dos soldados, as perdas civis no Afeganistão e no Iraque e a devastação de todos os aspectos da vida civil no Iraque. Ele não mencionou as decisões adversas da Suprema Corte em julho de 2004, que contestaram a base legal de seu sistema de prisão pós-guerra e disseram a ele que estrangeiros, assim como os cidadãos americanos, tinham direito a um processo justo em tempos de guerra. Além disso, Bush não discutiu a crescente alienação e amargura dos americanos, que, já dilacerados por diferenças raciais e religiosas, se tornaram cada vez mais divididos política e economicamente nos últimos quatro anos.

Temos um presidente que gastou meses aterrorizando o país com advertências sobre cogumelos atômicos que viriam do arsenal de Saddam Hussein e depois disse, como fez num discurso de campanha, que isso não era relevante. Bush afirmou: “Ainda podemos encontrar armas. Ainda não encontramos. [...] Ouçam o que eu tenho de dizer a vocês: sabendo o que sei hoje, ainda assim teríamos ido até o Iraque”. Temos um presidente que pode ficar indiferente quando cachorros de combate são soltos em cima de prisioneiros e depois declarar, em junho de 2004, que “os Estados Unidos são contra a tortura e não vão tolerá-la. Vamos investigar todos os atos de tortura e processar os que os tenham cometido, além de fazer de tudo para impedir que outras punições cruéis e estranhas ocorram em todo o território sob nossa jurisdição”, e que “a ausência de tortura é um direito humano inalienável”. Há muitos que acreditam que o presidente George Bush é um mentiroso, um presidente que distorce os fatos de uma maneira ciente e proposital para obter lucro político. Mas mentir indica uma compreensão do que é desejado, do que é possível e de como chegar lá da melhor forma. Uma explicação mais plausível é que as palavras não tenham significado para esse presidente além do momento imediato em que as pronuncia: ele acredita que sua mera emissão as torna verdadeiras. É uma possibilidade assustadora.”