quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A Torre Negra: A Torre Negra, de Stephen King

Editora: Suma de Letras

ISBN: 978-85-81050-27-0

Tradução: Mário Molina

Opinião: ★★★★☆

Páginas: 872

Sinopse: Criando uma trama fantástica a cada reviravolta, Stephen King supera todas as expectativas neste maravilhoso final da série A Torre Negra, uma saga épica de sete volumes, que foi publicada ao longo de mais de vinte anos. Entremeando histórias, mundos e panos de fundo vastos e complexos, esta conclusão muito esperada pelos leitores é criativa, de tirar o fôlego, corajosa, visionária e vale cada segundo de espera e de leitura.

Roland Deschain e seu ka-tet viajaram juntos e separados, espalhados e distantes, em mundos paralelos, em diferentes tempos e espaços. Agora o destino de Roland, Susannah, Jake, padre Callaham, Oi e Eddie são unidos na própria Torre Negra, que os atrai para cada vez mais perto de seus próprios fins. Neste capítulo final, o grupo acompanha o último Pistoleiro na missão para encontrar – e salvar – a Torre das mãos do Rei Rubro e seus aliados, e o desfecho da missão implacável de Roland e seu ka-tet finalmente é revelado.



“Aquele que fala sem um ouvido atento é mudo.”

 

 

“Batalhas que duram cinco minutos engendram lendas que vivem mil anos. E: Você não precisa morrer feliz quando seu dia chegar, mas deve morrer em paz consigo mesmo, achando que viveu sua vida do início ao fim e que o ka (destino) sempre foi servido.”

 

 

“Também se lembrava de Roland dizendo que mesmo a batalha mais curta, do primeiro tiro ao último corpo que cai, pareceu longa para os que dela participaram.”

 

 

“Um homem não pode se fazer sozinho.”

 

 

“Susannah Dean olhou ao redor, mais uma vez contando seus inimigos como Roland havia ensinado. Nunca deve sacar, ele tinha dito, antes de saber quantos há contra você ou até se certificar de que jamais poderá saber ou até concluir que é seu dia de morrer.”

 

 

“– Assim o mundo vai terminar, eu acho, antes uma vítima do amor que do ódio. Pois o amor sempre foi a arma mais destrutiva, sem dúvida.

Ele se inclinou, sentindo um cheiro de flores murchas ou velhos temperos, e soltou o ar. A coisa que parecia vagamente uma cabeça mesmo agora voou, como paina ou uma bola de dente-de-leão.

– Ela não pretendia prejudicar o universo – disse Susannah, a voz não de todo firme.  – Só queria o privilégio de toda mulher: ter um bebê. Alguém para amar e criar.

– É – Roland concordou –, você diz a verdade. E isso é o que torna seu fim tão negro.

– Às vezes penso — disse Eddie — que todos nós estaríamos melhor se as pessoas que têm boas intenções se afastassem de mansinho e morressem.

– Esse seria também o nosso fim, Grande Ed — Jake alertou.”

 

 

“Pimli certamente não se via como vilão, mas nenhum homem verdadeiramente perigoso jamais se vê dessa forma.”

 

 

“A maioria dos morks são introvertidos egoístas que se mascaram como individualistas heroicos – e os funcionários do Algul adoram isso, podem crer. Nenhuma comunidade é mais fácil de governar que aquelas que rejeitam o próprio conceito de comunidade.”

 

 

“A única coisa que o talento quer é ser usado.”

 

 

“Sim, podia acontecer tudo aquilo que tinham esperança que ocorresse... mas desejo é uma coisa e a merda que dá é outra, teriam de ver qual o pote que encheria primeiro.”

 

 

“Agora Ted estava com a corda toda, mas ansioso? Não. Ansiedade, pensou ele, era para pessoas que ainda não estavam decididas.”

 

 

“– Tinha dito a mim mesmo que jamais faria isto – Jake contou a Dinky. – Nunca na vida. E aqui estou com um cigarro na mão. – Riu. Foi um riso amargo, um riso adulto e aquele som saindo de sua boca o fez tremer.

– Eu trabalhava para um cara antes de vir para cá – disse Dinky. – Ele costumava dizer que nunca é a palavra que Deus gosta de ouvir quando quer dar uma risada.”

 

 

“Havia um ponto em que a pessoa tinha de confiar em alguma coisa, porque a alternativa era a loucura.”

 

 

“Poucas coisas nos tiram tanto a vontade de viver quanto o frio constante... Um frio não suficiente para nos matar, talvez, mas que esteja sempre à nossa volta, roubando nossa energia, nossa determinação e a gordura do nosso corpo, grama por grama.”

 

 

“Meu professor, Vannay, costumava dizer que existe apenas uma regra sem exceções: Antes da vitória vem a tentação. E quanto maiores os louros a conquistar, maior a tentação a que é preciso resistir.”

 

 

“A maioria dos políticos mente pela mesma razão que um macaco se balança pela cauda, isto é, porque podem fazê-lo.”

 

 

“– Não tem sido uma vida ruim – Joe estava dizendo. – Não foi, de nenhum modo ou tamanho, a vida que eu esperava, mas tenho uma teoria... As pessoas que de fato conseguem viver as vidas que esperavam ter em geral são as mesmas que vão acabar tomando soníferos ou enfiando o cano de um revólver na boca e puxando o gatilho.”

 

 

“Como diz o ditado, uma chuva forte criava estranhos companheiros de cama na pousada.”

 

 

“Roland de Gilead sentiu um aroma doce que foi capaz de identificar: sachê de pinho, como o que a mãe colocara primeiro em seu berço, depois, mais tarde, em sua primeira cama de verdade. O cheiro o fazia voltar aquele tempo com grande nitidez, como os aromas sempre fazem; se algum sentido funciona para nós como máquina do tempo é o sentido do olfato.”

 

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Childe Roland à Torre Negra chegou – por Robert Browning (1855)

 

I

Primeiro pensei: ele mentiu a cada sentença

O coxo encanecido, com olhos cheios de malícia

Ávidos por ver nos meus de sua mentira a perícia

E com a boca sem conter a alegria intensa

Que repuxava seus cantos na crença

De que o predador outra vez se sacia.

 

 

II

Qual outro seria o intuito, com seu cajado?

Qual senão emboscar e laçar os andarilhos

Que porventura o encontram pelos trilhos

E vêm pedir direção? Que risada má eu teria escutado,

quem deixaria meu epitáfio marcado

por diversão nos terrosos caminhos.

 

 

III

Se ao seu conselho eu devesse me desviar

Para aquele curso sinistro que, é sabido,

Esconde a Torre Negra? Porém eu, de boa-fé imbuído,

Tomei o indicado caminho, sem orgulho demonstrar

Nem esperança rediviva ao ver o fim se aproximar,

Mas sim gratidão pela ideia de algum fim existir.

 

 

IV

Pois, se depois de o mundo todo vagar

Se na minha busca ano a ano estendida

Minha esperança tornou-se uma sombra encardida

E incapaz de com o gozo ruidoso da vitória lidar,

A festa no meu coração eu mal pude refrear

Quando este entreviu a batalha perdida.

 

 

V

Assim como um doente à beira da morte

Já parece morto, e pressente o pranto fatal,

e recebe de todos a despedida amical,

E escuta ao longe a saída de outro consorte

Para respirar lá fora, (não se muda a sorte,

ele diz, e o pesar não se alivia com o golpe final)

 

 

VI

Enquanto outros debatem junto às covas

Se há espaço para o caixão e que hora

É a mais apropriada para levá-lo embora,

Sem esquecer dos estandartes, hinos e estolas,

O homem ouve cada uma dessas estórias

E, respeitando tanta candura, quer partir sem demora.

 

 

VII

Assim, já sofro há tanto nessa jornada

Já ouvi do fracasso o vaticínio e a confirmação

Para tantos e tantos companheiros da Afiliação

de cavaleiros que da Torre Negra atendem à chamada,

Que falhar como eles me pareceu a coisa acertada

E a única dúvida era: não seria essa minha função?

 

 

VIII

Tão quieto quanto o desespero eu dei as costas

àquele coxo odioso, abandonando sua via

e adentrando o caminho apontado. Todo o dia

havia sido lúgubre, e as sombras, sobrepostas,

fechavam-se a minha volta, mas uma olhadela torta,

rubra e carrancuda, ele lançou à planície todavia.

 

 

IX

Por Deus! Logo assim que me encontrei

Jurado à planície, após não mais que uma passada,

Parei para um último olhar à segurança da estrada

E nada mais havia, só a planura cinza avistei

Nada senão a vastidão sob o céu do astro rei.

Sem mais a fazer, decidi seguir caminhada.

 

 

X

Assim, fui adiante. E creio nunca ter visto

Natureza tão miserável e ignóbil, onde nada medra:

Pois as flores – ou mesmo um cedro entre a pedra,

Embora murchando como pela sua lei previsto,

Mesmo no abandono perduram, pensaria você;

Descobrem-se tesouros quando a casca quebra.

 

 

XI

Mas não! Penúria, feiura, inércia

Em condição estranha está essa parte da terra

“Veja, ou feche os olhos”, a Natureza berra

“Não há escapatória: ela é de todo néscia,

Só o fogo do Julgamento Final trará a panaceia,

Calcinando o chão e livrando os presos que ele cerra.”

 

 

XII

Se havia ali alguma ressequida haste de cardo,

Seus colegas não se achavam, e o talo estava decepado.

O que fez aqueles buracos e rasgos no folhado

escuro e duro da bardana, tão machucado

que era impossível pensá-lo regenerado?

Era preciso que um bruto as tivesse pisoteado.

 

 

XIII

Quanto à relva, era como o cabelo escasso

Dos leprosos; magras lâminas secas na lama

Que parecia ter por baixo uma sanguínea trama.

Um cavalo cego e rijo, ossos à vista, lasso,

Parava ali, estúpido; havia chegado àquele pedaço:

Rebento que o garanhão do diabo não reclama!

 

 

XIV

Vivo? A meu ver poderia muito bem já ter partido,

Com seu pescoço rubro, descarnado e macilento.

E os olhos fechados por sob o pelo bolorento;

Nunca o grotesco andou à desgraça tão unido;

E jamais senti por criatura ódio tão ardido:

Ele deve ser mau para merecer tal sofrimento.

 

 

XV

Fecho meus olhos, e os volto para o meu coração,

Como um homem que pede vinho antes de lutar,

Visão mais feliz, de outro tempo, eu quis saborear

Para ficar mais apto a encarar minha missão.

Pensar antes, lutar depois, eis do soldado o bordão:

Um vislumbre do passado pode a tudo acertar.

 

 

XVI

Mas não! Imaginei de Cuthbert a face corada

Em meio a seu adorno de cachos dourados,

Querido amigo, eu quase o senti laçar meus braços

Para me colocar a postos na caminhada

Como ele sempre fez. Ai, noite desgraçada!

O fogo no meu coração se apagou, deixando-o gelado.

 

 

XVII

Giles então surge – ele que é da honra a alma,

Leal como há dez anos, quando tornou-se cavaleiro

Capaz de ousar tudo que ousaria um homem verdadeiro

Mas – argh – a cena se modifica! Um carrasco infama

seu peito com um aviso que para todos informa:

Desprezado e amaldiçoado; traidor rasteiro.

 

 

XVIII

Do que um passado assim, melhor este presente

Que eu volte então para meu caminho triste

Nenhum som, nada que se veja ao longe em riste.

Aparecerá morcego ou coruja após o poente?

Perguntei quando algo na planície descrente

capturou e dominou meu pensamento num despiste.

 

 

XIX

Um súbito córrego atravessava meu caminho

Veio tão inesperado quanto uma cobra

Sem o lento escorrer que a atmosfera desdobra

Poderia ser um banho, com seu burburinho,

Para o casco do demônio, a ver seu redemoinho

Negro borbulhar com espuma e faísca rubra.

 

 

XX

Tão pequeno e ao mesmo tempo tão mau

Amieiros o cercavam, rasteiros e mirrados;

Salgueiros afundavam-se e afogavam-se desesperados

Numa síncope muda, num atropelo mortal:

Quem os destruiu foi esse carrasco manancial,

E, fosse ele o que fosse, fluía sem ser desviado.

 

 

XXI

Bom Deus, ao adentrar seu leito, quanto medo

De pisar o rosto de algum cadáver humano,

A cada passo – tateando com um ramo

À cata de buracos – seus cabelos entre meus dedos.

Um rato-d'água talvez tenha por acaso lancetado,

Mas, argh, parecia o grito de um menino.

 

 

XXII

Estava feliz quando cheguei ao outro lado.

Agora terras melhores me esperam. Vã esperança!

Quais foram os contendores? Qual foi a matança?

Que trotar selvagem pôde fazer desse solo molhado

Um atoleiro? Sapos em um tanque infectado

Ou gatos selvagens numa cela em incandescência –

 

 

XXIII

Assim deve ter sido a luta naquela arena decadente

O que os trouxe até lá, se tinham toda a planície?

Nenhuma pegada na direção daquela imundície

Nenhuma dela se afastando. Alguma poção demente

Agiu em seus cérebros, sem dúvida, como no da gente

Escrava – judia e cristã – que o turco atiçava por malícia.

 

 

XXIV

E além de tudo – a uma milha –, o que era aquele achado?

Para que mau intuito servia aquela máquina, aquela polia –

Um travão, não uma polia –, aquela grade que fiaria

Corpos humanos como se fossem seda? O ar desonrado

Dos rituais de Tophet, na terra perdido, ou invocado

Para afiar o enferrujado metal da sua gradaria.

 

 

XXV

Então uma terra de galhos, que um dia foi floresta;

Depois algo como um pântano; e agora apenas terra dura

Desesperada e acabada (um tolo encontra ventura,

Faz algo e em seguida o destrói, seu humor desembesta

E ele o abandona!). Por dez ares, chão que cresta,

Lamaçal, seixos, areia, e uma esterilidade negra, impura.

 

 

XXVI

Agora, pústulas inflamam-se em cor forte,

E medonha. Agora, remendos onde a aridez do chão

Tornou-se musgo, ou substâncias em ebulição;

Surge então um carvalho, e nele há um corte

Como uma boca distorcida que cava seu porte

Num bocejo para a morte, morrendo em seu repuxão.

 

 

XXVII

E tão longe como nunca o fim se afigura!

Nada no horizonte senão a noite, nada

Que direcionasse adiante minha passada!

Isso pensei, e surgiu um pássaro de imensa negrura

Amigo de Satã, a asa de dragão, na largura,

roçou meu gorro – talvez esta fosse a guia procurada.

 

 

XXVIII

Ao olhar para cima, apesar do anoitecer,

Vi com mais clareza. A planície dera lugar

às montanhas que a cercavam – nome muito invulgar

Para meras alturas feias e montes a não mais ver.

Como poderiam elas ter-me surpreendido, tente esclarecer!

Como vencê-las também não era fácil deslindar.

 

 

XXIX

Mas ainda assim, pareci reconhecer certo truque

Do qual fui vítima, Deus sabe quando –

Talvez em um mau sonho. Aqui estava terminando

O progresso por este caminho. Quando fiz que

desistia, mais uma vez, soou um clique

Como o de um alçapão atrás de mim se fechando.

 

 

XXX

Veio a mim de imediato, como fogo em um milharal,

Era este o lugar! À direita, esses dois morros, agachados,

como dois búfalos com os chifres enganchados;

Enquanto à esquerda, uma montanha alta... Boçal,

Imbecil, vacilar logo na hora mais crucial,

Você que treinou uma vida para ter olhos afiados!

 

 

XXXI

E se a própria Torre estivesse no centro? Redonda

e atarracada, cega como um coração rasteiro,

Feita de pedra marrom, sem igual no mundo inteiro.

O elfo, caçoando da tempestade que o ronda,

Aponta ao timoneiro o banco que ninguém sonda.

Ele aporta, por pouco não rompendo do casco o madeiro.

 

 

XXXII

Não vê-la? Talvez por conta da noite? – se o dia

Ressurgiu para isto! E antes de partir novamente

O poente brilhou por uma fenda rente:

As colinas, como gigantes caçadores na tocaia,

Esperando que a presa na armadilha caia –

“Agora ataquem e matem a criatura, inclementes”.

 

 

XXXIII

Não ouvi-la? Com tantos sons à volta! O ribombar

dos sinos cada vez mais alto. Nomes nos meus ouvidos

Todos os aventureiros, meus companheiros perdidos –

Como, se um era tão forte, outro de tão corajoso bradar,

Outro tão afortunado, como foram perdidos acabar?

Um instante trazia tantos anos de sofrimentos renascidos.

 

 

XXXIV

Ali estavam eles, pelos lados dos montes, unidos

Para assistir meu fim. Eu, uma moldura animada

Para mais um quadro! Numa súbita labareda

Eu os vi e reconheci a todos. E, destemido,

Deixei meus lábios formarem um bramido:

“Childe Roland à Torre Negra chegou”, foi minha chamada.

Um comentário:

Doney disse...

Classifiquei como muito bom, mas quase diminuí a nota por conta da enorme vaidade do autor de se inserir como personagem - coisa que já havia me incomodado bastante no livro anterior.
*
De qualquer modo, o que definiu como 4 asteriscos (e não 3) foi o final - onde ele tinha tudo pra fazer uma enorme bobagem.
Tendo em vista que tanto se fala na Torre Negra, criar o enredo ao se alcançá-la não é tarefa fácil, e um deslize nesse momento poderia fazer com que os leitores se arrependessem de ter lido a série inteira (como C. Paolini conseguiu fazer com o ciclo da herança).
Mas, felizmente, não é o caso. O final é muito interessante e original.