domingo, 6 de novembro de 2016

Colina Negra – Bruce Chatwin

Editora: Companhia das Letras
ISBN: 978-85-3590-687-5
Tradução: Luciano Machado
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 344
Sinopse: Os gêmeos Lewis e Benjamin levam a vida à parte da agitação do século XX. Os dois atravessam o período isolados na bucólica fazenda Visão, na fronteira entre Inglaterra e País de Gales. Filhos de Amos Jones um homem amargurado e tirânico, e de Mary, uma mulher corajosa, eles se resignam com o duro trabalho no campo, a vida doméstica e as relações humanas com pouco espaço para afetos. Enquanto isso, o mundo vive um período turbulento, de transformações radicais.
Os ecos da marcha histórica são ouvidos esporadicamente, nos diálogos e cenas que compõem o livro: a visita de um oficial do exército para convocar jovens para a Primeira Guerra; um comentário no pub sobre a invasão da Polônia, em 1939; um protesto de agricultores contra o governo Thatcher, já nos anos 80; as mudanças tecnológicas e comportamentais do século – aviões, videogames, mulheres emancipadas, o movimento hippie.
Colina Negra é uma espécie de épico em tom íntimo, um relato sobre sentimentos que resistem ao tempo e à história.



“Os irmãos Jones ficavam numa sala de aula ventosa, onde um relógio preto batia as horas, e o senhor Birds ensinava geografia, história e inglês. A senhora Clifton ensinava matemática, ciências e a Sagrada Escritura.
Não gostavam do senhor Birds.
O rosto arroxeado, as veias das têmporas, o mau hálito e o hábito de cuspir num saquinho de rapé – tudo isso causava uma impressão muito desagradável, e eles se encolhiam sempre que Birds se aproximava.
Apesar de tudo, aprenderam a recitar a “Ode a uma cotovia”, de Shelley, a pronunciar Titicaca e Popocatepetl. Aprenderam que o Império Britânico era o melhor de todos os impérios possível, que os franceses eram covardes e os americanos traidores. E os espanhóis queimavam crianças protestantes em fogueiras.”


“O pregador cortou um pão em pedaços, abençoou-os e fê-los passar ao longo da mesa numa bandeja de estanho. Então abençoou o vinho numa taça de estanho. Mary recebeu a taça do vizinho e, quando seus lábios tocaram a borda, ela compreendeu, num átimo, que aquele era mesmo o Festim do Senhor, era mesmo o lugar por excelência do convívio espiritual. E que todas as grandes catedrais do mundo foram construídas não tanto para a glória do Senhor, mas para satisfazer a vaidade dos homens. Que os papas e bispos eram césares e príncipes. E se, depois daquele dia, alguém a recriminava por ter abandonado a Igreja anglicana, ela inclinava a cabeça para frente e dizia apenas: “A capela¹ me dá um grande consolo”.
¹: Na Grã-Bretanha, capela é um templo não anglicano. (N.T.)


“Nada pode ser mais solitário que a solidão do casamento.”


“Não existem melhores amigos que os velhos amigos.”

2 comentários:

Doney disse...

“Porque é morno, nem frio nem quente, estou para vomitar você da minha boca”. (Ap. 3,16).
Fosse para seguir o escrito bíblico, este seria um livro a ser vomitado.

Uma curiosidade foi que no meio da obra me deparei com uma personagem chamada Lily Annie. Não sabia que era esta a origem do nome Liliana.

Sugestão de Livros disse...

Os trechos foram interessantes.